Solidariedade entre os povos da floresta, do campo e da cidade PDF Imprimir E-mail
Qui, 21 de Maio de 2015 14:10

Com este lema foi realizado entre os dias 3 a 8 de maio 2015 o Encontro Anual do Programa Brasil de E-CHANGER/COMUNDO, no Sítio Poraquê, Rio Preto da Eva /AM. Foi neste ambiente de floresta amazônica que seus participantes, ou seja, cooper-atores/as, representantes das organizações parceiras e a coordenação nacional foram recebidos por um ritual Yanomami com pinturas características desse povo quando o mesmo recebe visitantes e se prepara para os eventos festivos e celebrativos em seus xapono (aldeias).

Participaram membros da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da União Nacional por Moradia Popular (UMP), da Associação e Serviço de Cooperação com o povo Yanomami (SECOYA), do Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV) e do Central dos Movimentos Populares (CMP).

Durante o encontro foram analisados e discutidos as inserções das cooper-atores/as nas organizações parceiras, os desafios de momento principalmente em relação a perspectiva de finalização do Programa Brasil em 2016. As questões levantadas pelo grupo foram debatidas na perspectiva de que, coletivamente, o Programa Brasil possa desenvolver suas atividades da melhor forma possível até o final do seu mandato. Além disso, os participantes refletiram sobre os atuais desafios de E-CHANGER após ter integrado a articulação COMUNDO, que reúne, além de E-CHANGER duas outras instituições de envio de voluntários da Suíça. A preocupação é com a mudança de filosofia ou a perda de identidade de E-CHANGER que tem assumido de modo solidário formas de atuação em consonância com os princípios e dinâmicas dos movimentos sociais no Brasil.


No decorrer do encontro, foi realizada a visita à comunidade indígena Beija Flor buscando promover uma interação entre os participantes e a realidade de movimentos sociais locais, no caso principalmente a realidade dos povos indígenas. Após uma viagem de voadeira pelo Rio Preto da Eva e uma caminhada debaixo de chuva, os participantes depararam-se com uma enorme maloca Tukano, onde os esperavam os representantes comunitários com uma fogueira onde dezenas de peixes estavam sendo moqueados sobre um giraú de madeira. A maloca é utilizada enquanto espaço coletivo para os diversos eventos e manifestações daquela comunidade.


A visita propiciou além da partilha do almoço na folha da bananeira, um intercâmbio entre os/as indígenas e o grupo organizado por E-CHANGER/COMUNDO, de modo que todos puderam se apresentar, especialmente a comunidade local que discorreu sobre a história da formação da aldeia, as lutas, desafios e conquistas, sobretudo, na saúde e educação. As relações com os/as não-indígenas também foram discutidas como sendo preconceituosas e ameaçadoras à cultura indígena e mesmo à vida dos pertencentes a esta comunidade. A visita foi complementada com um passeio pelas áreas de cultivo e explicações sobre as áreas de preservação ambiental da Comunidade Beija Flor.

O feminismo popular foi o tema de debate que predominou no quarto dia de encontro. A Marcha Mundial das Mulheres por meio de suas militantes facilitou o debate com o tema por meio de uma oficina que permitiu uma participação bastante ativa de todos/as os/as participantes, discutindo sobre as diferenças impostas pela sociedade machista, as quais são justificadas quase sempre pela biologia das pessoas e os aspectos culturais de cada povo. Evidencia-se a forte divisão sexual do trabalho, em que as mulheres possuem uma sobrecarga de trabalho e mesmo que estas estejam no mercado de trabalho assumem quase todo ou mesmo todo o trabalho doméstico e de cuidados. E no mercado as mulheres ainda possuem salários menores e ocupam funções inferiores na maioria das vezes em relação aos homens. O patriarcado e o capitalismo são construções sociais que estão correlacionadas e por isso a luta do feminismo se faz na contraposição a este modelo, e que também por isso essa luta é articulada com o conjunto dos movimentos sociais, por entender que a responsabilidade pela igualdade não é somente das mulheres.

Cada movimento ou organização participante teve um espaço durante o encontro para apresentar seus trabalhos, lembrando o quanto a E-CHANGER contribuiu para muitos processos importantes de luta nas comunidades, durante mais de 20 anos de presença e cooperação solidária, através da presença de seus cooper-atores/as no Brasil. Silvio Cavuscens da Secoya lembrou ainda que o primeiro encontro no Brasil, 20 anos atrás, também se deu no mesmo local, no sítio Poraquê em Rio Preto da Eva/AM.

O Encontro terminou com uma bonita confraternização marcada pela costumeira alegria dos participantes deste encontro a cada ano, com muita cantoria, conversas descontraídas e as comidas típicas do lugar, a Amazônia. Os/as participantes estavam de acordo que o espírito de luta e resistência foi o que permeou o encontro, apontando propostas para o Brasil e para a Suíça. Eles/as também reconheceram a grande importância da participação de companheiros Yanomami no encontro permitindo nos aproximarmos o tempo todo da realidade e da cultura indígena, que parece muito distante de onde estamos.

 

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