Ameaça à liderança indígena Davi Kopenawa Yanomami PDF Imprimir E-mail
Qua, 30 de Julho de 2014 18:08

Davi Kopenawa Yanomami recebe ameaça de morte

Diretores e funcionários da Hutukara Associação Yanomami vivem clima de insegurança depois que seu presidente Davi Kopenawa foi ameaçado de morte e pessoas estranhas rondam a sede da organização.

Cronologia das ameaças

Em maio deste ano o diretor da Hutukara Armindo Góes estava andando por São Gabriel da Cachoeira/AM quando garimpeiros foram ao seu encontro e avisaram que as pessoas que tiveram prejuízo com as operações de combate ao garimpo dentro da TI Yanomami estavam buscando por Davi Kopenawa e que ele não chegaria vivo até o final do ano.

Como precaução, a Hutukara tomou medidas para aumentar a segurança na sua sede em Boa Vista e restringiu as atividades e a movimentação do seu presidente. No entanto, em junho deste ano, dois homens armados entraram na sede do ISA, em Boa Vista, procurando por Davi e por funcionários do ISA.

Após entrarem no escritório sacaram pistolas e anunciaram o assalto. Levaram todos os computadores, celulares e GPSs. Um dos criminosos foi preso e disse que o assalto havia sido encomendado por outro homem em um garimpo em Tumeremo, na Venezuela.

 

A partir daí, motoqueiros são vistos rondando a sede da Hutukara e perguntando por Davi.

Prováveis motivos das ameaças

Nos últimos anos, a Hutukara vem colaborando com a Funai e a Polícia Federal nas investigações de combate ao garimpo, fornecendo mapas dos locais, pontos geográficos de localização, prefixos de aeronaves, apelidos de pilotos e nomes de pessoas que financiam a atividade ilegal. Esta ação sistemática resultou na mudança de ação da Polícia Federal que, em julho de 2012, realizou a operação Xawara, que pela primeira vez prendeu pilotos, donos de balsas e de joalherias.

Em janeiro de 2013, o Superintendente da Polícia Federal em Roraima informou à sociedade que a atividade ilegal de exploração mineral movimenta R$ 30 milhões por mês no estado.

A Hutukara continua cobrando da Polícia Federal que investigue toda a cadeia do ouro da TI Yanomami (quem financia, quem compra, e o destino final) e produza provas necessárias à responsabilização penal e civil das pessoas que cometem estes crimes. Infelizmente os financiadores da exploração mineral ilegal raramente são identificados e os garimpeiros presos são rapidamente soltos e retornam à atividade ilegal dentro da TI Yanomami.

Este trabalho tem exposto o presidente da Hutukara, Davi Kopenawa, que nos últimos 30 anos tem se dedicado de maneira excepcional para conseguir a demarcação da TI Yanomami, a retirada dos garimpeiros que dizimou parte significativa do seu povo no final dos anos 1990, a construção do primeiro Distrito de Saúde Indígena (DSEI) em 1992, que depois serviu de modelo para a criação dos demais 33 DSEIs no país todo, a criação de um projeto pedagógico específico para o povo Yanomami, a criação da Hutukara Associação Yanomami e a sustentabilidade da TI Yanomami.

Seu trabalho tem sido reconhecido em nível nacional e internacional. Em março de 2012, a Organização Mundial Contra a Tortura (OMCT), programa voltado para a defesa dos defensores de direitos humanos, homenageou Davi com a realização de um filme que mostra o seu trabalho contra o garimpo na TI Yanomami, e que foi apresentado no Festival Internacional de Genebra, na Suíça.

Davi recebeu diversos prêmios por sua atuação em defesa da floresta e dos direitos indígenas. Em 1989 recebeu o Premio Global 500 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em Nova York; em 1999 foi condecorado pelo presidente Fernando Henrique com a Ordem do Rio Branco ao grau de Cavaleiro em Brasília; e em 2009 foi homenageado pelo comitê Bartolomeu de Las Casas, em Madrid, e pelo Ministério da Cultura do Brasil com a Comenda da Ordem do Mérito Cultural ao grau de Cavaleiro. Em 2013 recebeu da Câmara Municipal de Boa Vista o título de Honra ao Mérito Rio Branco.

É importante lembrar o contexto de violência e insegurança que lideranças indígenas e ambientalistas vivem no Brasil. De acordo com o relatório da organização Global Witness, nos últimos anos quase metade das pessoas assassinadas que trabalham em defesa do meio ambiente no mundo, o foram no Brasil. Entre 908 assassinados entre 2012 e 2013, 443 mortes ocorreram em território brasileiro.

Segundo este relatório, o país não monitora redes criminosas atuantes na Amazônia, subestima os conflitos de terra e negligencia assistência para as famílias ameaçadas por proprietários de terra e madeireiros. O Brasil é o Estado mais perigoso para a defesa do direito à terra e ao meio ambiente, devido ao crescimento dos episódios de violência na Amazônia.

É surpreendente, por exemplo, que a Operação Xawara, em julho de 2012, tenha prendido novamente o garimpeiro Pedro Emiliano, condenado em última instância por ter participado do genocídio, que em 1993 vitimou 16 pessoas, entre elas mulheres e crianças, no caso conhecido como Massacre do Haximú.

A Secoya, junto com a Hutukara, cobra do Estado Brasileiro não apenas a proteção e a vigilância do território e do povo Yanomami, mas a integridade física do presidente da Hutukara, Davi Kopenawa.

Fonte: Hutukara

 

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