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Formação dos professores Yanomami

A formação de professores Yanomami para o Magistério teve início através da parceria da Secoya com a CCPY e posteriormente com URIHI e Diocese de Roraima, com o principal intuito de acelerar o reconhecimento das escolas e professores Yanomami.
A partir de 2004, as instituições tomaram a decisão de realizar os cursos em suas respectivas áreas de atuação, embora os planejamentos dos mesmos ainda fossem em conjunto. Tomou-se essa decisão devido as dificuldades em se trabalhar com grandes grupos, além dos significativos gastos. Desde então, a Secoya vem promovendo a formação dos 18 professores Yanomami das regiões do Marauiá, Demini e Aracá.
Inicialmente a proposta de formação foi pensada para acontecer em quatro modalidades: (1) cursos intensivos, (2) acompanhamentos pedagógicos aos professores, (3) intercâmbios com outras escolas indígenas e programas de formação de professores indígenas, e (4) pesquisa e estudos autônomos, a partir de três eixos temáticos: Terra, Língua e Saúde.
A terra foi eleita como eixo temático da formação porque sem o território a sobrevivência do povo Yanomami fica comprometida. Embora o território Yanomami esteja demarcado e homologado as riquezas existentes em seu solo e subsolo fazem com que ele seja alvo de cobiça de variados grupos econômicos. Portanto, o direito garantido sobre o território é uma questão incondicional e prioritária, que deve permear toda a grade curricular de formação de professores Yanomami. Esse eixo abrange também a gestão do território, já que, após o contato, se desenhou uma nova maneira de ocupação por parte dos Yanomami, onde chamam a atenção três questões principais: território finito, sedentarização e crescimento populacional.
A preocupação com a sobrevivência da língua levou os idealizadores dos cursos de formação a eleger esse tema como o segundo eixo que norteia a formação dos professores Yanomami. Embora a maioria dos professores seja monolíngüe em Yanomami, há os habitantes com permanente contato com a sociedade nacional, trazendo a presença cada vez mais intensa da língua portuguesa para o cotidiano da vida dos Yanomami. Com a necessidade dos Yanomami falarem o português, torna-se importante promover a reflexão sobre a política linguística que se quer.
A escolha da saúde para a tríade dos eixos temáticos aconteceu pela preocupação em manter os serviços de saúde a partir dos princípios do Distrito Sanitário Especial Indígena – DSEI. A política de saúde para os Yanomami adotada pelo Governo Federal já deu bons resultados, mas nos últimos anos a relação da FUNASA com as organizações prestadoras de serviço sofreu várias mudanças que afetaram diretamente as ações de atenção básica desenvolvidas nos xapono. Por esse motivo, saúde como eixo central configura-se de modo a assumir uma postura de reflexão sobre o desenvolvimento das atividades de políticas públicas de saúde no Brasil e mais especificamente no tocante ao subsistema de saúde indígena.
A formação de professores é de grande importância para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem, principalmente se esta for realizada de forma continua possibilitando a esses atores a busca de soluções para os conflitos e dilemas em todas as áreas que envolvem o xapono.
Uma vez conhecedores de suas limitações quanto aos conhecimentos conceituais, métodos e atitudes necessárias para uma melhoria da prática educativa, os professores em formação tem se interessado pelos cursos. Mas precisam ter consciência que o prestígio para ser alcançado necessita de uma busca constante pelo conhecimento e a formação é o melhor caminho a ser seguido.
Ao longo desse caminho, os professores perceberão que a reflexão sobre a prática tende a provocar mudanças no processo educativo, pois quando o profissional reflete na ação e sobre a ação, questiona a definição de sua tarefa e os modelos de aprendizagem dominante. Durante todo o processo, as pessoas envolvidas se empenham em repassar para os professores Yanomami esses preceitos e a importância de se tornarem os donos de suas próprias práticas educativas.

I Etapa do curso de formação para professores Yanomami

A Etapa denominada "Terra" realizada entre os dias 15 de julho e 14 de agosto de 2001, dentro da Terra Indígena Yanomami, nas instalações da Missão Catrimani, pertencente à Diocese de Roraima, no xapono (aldeia) dos Mauxiutheri pë foi elaborado e executado pelas equipes de educação da CCPY – Comissão Pró-Yanomami, SECOYA – Associação Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami e especialistas convidados. Os professores ( 56 ) das regiões do Demini, Toototobi, Parawau, Paapiu, Catrimani, Ajuricaba e Marauiá formaram o público alvo.
O eixo temático desta etapa foi o TERRITÓRIO YANOMAMI, contemplando as disciplinas de Geografia, Direitos Indígenas, História, Língua Yanomami, Língua Portuguesa e Pedagogia. Sua carga horária total foi de 230 horas e pela primeira vez as instituições participantes promoveram um curso mais extenso, com conteúdo mais denso, com a participação de especialistas convidados e reunindo professores Yanomami de várias regiões. Até então, tanto CCPY, quanto SECOYA vinham oferecendo cursos pontuais de formação de professores, por regiões.

II Etapa do curso de formação para professores Yanomami

A II etapa do curso de formação, “Economia e Ecologia”, aconteceu no xapono de Ajuricaba, rio Demini, estado do Amazonas, entre 16 de maio e 15 de junho de 2002 e teve carga horária de 206 horas. Ao todo participaram 75 professores oriundos de 57 escolas espalhadas pelo território Yanomami.
Esta etapa foi desenvolvida a partir dos componentes curriculares de Matemática, Língua Portuguesa, História, Ecologia e Pedagogia pelas organizações CCPY, SECOYA e URIHI, com apoio do MEC, FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e da Prefeitura de Barcelos.
A organização do curso foi feita a partir de uma série de conteúdos correlacionados, eleitos com base nas demandas mais urgentes dos Yanomami, levando-se em conta o tempo de duração (30 dias). Havia uma grande necessidade de desenvolver a capacidade de manusear dinheiro, tanto para o exercício consciente das relações de compra e venda, quanto para o controle social sobre o dinheiro destinado ao seu bem estar, seja ele oriundo de fontes governamentais ou não-governamentais.
O uso do dinheiro no contexto das relações de compra e venda permitiu a abordagem sobre a produção de mercadorias, os recursos naturais nela utilizados e o impacto ambiental resultante da extração desses recursos. Daí surgiu o levantamento dos recursos naturais existentes na Terra Yanomami usados pelos próprios índios e os que são usados ou cobiçados pelos não-índios.

III Etapa do curso de formação para professores Yanomami

A etapa do curso denominada “Economia, Ecologia e Tecnologia”, com carga horária de 185 horas, aconteceu na cidade de Boa Vista/RR, no período de 01 a 27 de junho de 2003, com a participação de 122 cursistas oriundos de 73 xapono. Esta representatividade significou a presença das quatro línguas Yanomami: Yanomami, Yanomam, Sanöma e Ninam.
O objetivo geral definido para esta etapa foi de assessorar os Yanomami na reflexão sobre sua autonomia econômica e o impacto que vêm sofrendo após o contato com a sociedade envolvente.
Pensar a autonomia econômica remete pensar na sustentabilidade ecológica, tratando-se do próprio território Yanomami bem como do planeta. Por um lado, se faz necessário refletir sobre o uso dos recursos naturais da Terra Yanomami na realidade atual, quando se tem território finito, crescimento populacional e sedentarização dos grupos; e por outro lado, é igualmente necessário promover a análise crítica sobre a industrialização e produção de bens, salientando o uso desenfreado dos recursos naturais e a grande produção de resíduos que colocam em risco a vida das pessoas e do planeta.
Os temas/conteúdos eleitos para o III curso também levaram em conta o histórico curricular traçado nos dois cursos anteriores. O trabalho interdisciplinar procurou abordar temas que pudéssemos desenvolver em todas as disciplinas de forma abrangente, como por exemplo, a Industrialização, levando-se em conta as opções tecnológicas e suas conseqüências.

IV Etapa do curso de formação para professores Yanomami

O Programa de Educação da SECOYA realizou a IV etapa do curso denominado “Compreendendo o Meio Ambiente, o ser humano e seus Direitos”, no xapono de Bicho Açu, rio Marauiá, município de Santa Isabel do Rio Negro, no período de 10 de janeiro a 9 de fevereiro de 2005, somando uma carga horária de 216 horas. Os conteúdos desta etapa foram direcionados para os componentes curriculares de Ciências Naturais, História, Geografia, Matemática, Pedagogia e Direitos Indígenas atendendo a um grupo de 22 professores Yanomami, sendo 18 da área de atuação da Secoya, 01 da Missão Novas Tribos do Brasil e 03 da Missão Salesiana. Estiveram presentes ainda 6 lideranças.
Esta foi uma experiência nova para a equipe de educação da Secoya que até então vinha trabalhando em conjunto com outras instituições no planejamento, organização e execução das etapas do curso de formação. Para este momento contou-se com colaboração da CCPY para selecionar consultores especialistas nos componentes curriculares de Ciências Naturais, História, Geografia, Matemática e Pedagogia. O conteúdo de Direitos Indígenas, anteriormente trabalhado apenas como tema transversal, foi abordado de modo específico, pela importância que reveste na luta contemporânea dos Yanomami na defesa de seus direitos.
Ao final do Curso, durante a avaliação, o grupo deixou claro que a realização dessas atividades dentro dos xapono Yanomami não são bem aceitas, pois pessoas de outros grupos clânicos permanecem por um longo período e acabam interferindo no cotidiano. Além disso, vários xapono não têm bom relacionamento e isso pode trazer conflitos.

V Etapa do curso de formação para professores Yanomami

O Curso planejado, organizado e executado pelo Departamento de Educação e Formação da Secoya, aconteceu no Sítio Poraquê, município de Rio Preto da Eva, entre os dias 14 de novembro a 16 de dezembro de 2005 e apresentou como tema: "Pedagogia > Pensando a Educação Escolar Indígena", com carga horária de 203 horas.
Este momento teve como objetivo a continuação da Formação dos Professores Yanomami da área de abrangência da Secoya, com o intuito de qualificar seus trabalhos enquanto alfabetizadores; O reconhecimento das escolas e professores Yanomami, bem como fortalecer suas questões culturais em razão de sua autonomia através da abordagem dos componentes curriculares de: Geografia, História, Matemática, Educação para Saúde, Direitos Indígenas, Pedagogia.
O público alvo desta etapa de formação foi formado por: 3 do Bicho Açu, 3 do Ixima, 2 do Raita , e 2 do Kona na região do rio Marauiá; 2 do Aracá e 3 de Ajuricaba, Região do Demini; 2 Lideranças – Iton, do Ajuricaba e Hipólito, do Marauiá, além de toda a equipe de Educação da Secoya.
É importante salientar o papel das lideranças indígenas na ocasião dos cursos de formação de professores, ao contribuir com valiosas informações a respeito da cultura tradicional. Além disso, acompanham e estimulam os professores nesse processo, realizando na prática o controle social e favorecendo a articulação entre dois mundos e culturas tão distintas.

VI Etapa do curso de formação para professores Yanomami

A VI Etapa do Curso denominada "Construindo uma visão crítica da realidade Yanomami" aconteceu de 10 de outubro a 16 de novembro de 2006, no Sítio Poraquê, município de Rio Preto da Eva, da qual participaram 14 professores Yanomami e 3 lideranças da área de atuação da Secoya.
Os componentes curriculares trabalhados foram escolhidos a partir da avaliação dos professores Yanomami que consideraram importante estudar Cidadania e Direitos Indígenas, Educação Ambiental, Filosofia, Programa de Saúde, Pedagogia e Antropologia. No total foram 232 horas trabalhadas.
Durante a preparação desta etapa do curso, a Equipe da Secoya reservou espaço para os professores Yanomami realizarem visitas ao Bosque da Ciência, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - COIAB e sede da Fundação Nacional do Índio – FUNAI. Momentos considerados importantes pelos professores Yanomami por propiciar o intercâmbio com outros povos indígenas e instituições que podem contribuir com o entendimento sobre os cuidados com o meio ambiente e a manutenção de seu território.

VII Etapa do curso de formação para professores Yanomami

A VII Etapa do curso de formação de professores Yanomami aconteceu no período de 12 de novembro a 14 de dezembro de 2007, no Sítio Poraquê, município de Rio Preto da Eva. Desta etapa participaram 18 professores, sendo 16 da área de atuação da Secoya e 02 da Missão Novas Tribos do Brasil. Pela primeira vez participou um Yanomami do xapono de Cachoeira do Aracá, Nelson, na perspectiva de entender o processo de formação e a dinâmica dos cursos. Participou ainda uma liderança que acompanhou todo o curso.
A denominação "Lingüística: Da tradição oral ao saber escrito", deu-se em função dos componentes curriculares trabalhados, a saber: Língua Yanomami, Matemática, Pedagogia, Educação Ambiental, Língua Portuguesa e Educação em Saúde, totalizando uma carga horária de 220 horas.

VIII Etapa do Curso de Formação para professores Yanomami

A VIII Etapa do Curso de Formação para Professores Yanomami, denominada "Lingüística: Da tradição oral ao saber escrito 2" ocorreu de 10 de novembro a 12 de dezembro, no Sítio Poraquê, Rio Preto da Eva, estado do Amazonas. Deste momento de Formação participaram 19 professores Yanomami, toda equipe de educação da Secoya e um profissional de saúde liberado para acompanhar o grupo.

Foram dias de intenso trabalho através do desenvolvimento de atividades para estudo de:

  • Pedagogia, onde os professores Yanomami puderam receber novas teorias e orientações para melhorar o processo de alfabetização;
  • Sociologia, para ajudar nas discussões dos problemas hoje enfrentados por todos os xapono, mas em especial o Ajuricaba, que pratica pesca em área indígena para fins comerciais, Bicho Açu, que está freqüentemente alternando a moradia com comunidades ribeirinhas de Santa Isabel do Rio Negro e, finalmente, o Ixima, que saiu da área indígena para habitar terras utilizadas para o extrativismo de piaçaba, no Rio Preto, afluente do Rio Padauiri, médio Rio Negro;
  • A Disciplina de Metodologia da Pesquisa fundamentará o trabalho desenvolvido pelos professores para elaboração de material didático e ajudará no registro de antigos hábitos e atividades do povo que podem colaborar no fortalecimento da cultura Yanomami;
  • A parte de Língua Yanomami ajudou os professores a entenderem melhor a estrutura da língua e a fazer a distinção com a Língua portuguesa, trabalhando ao mesmo tempo a necessidade e importância em manter a língua materna sempre viva;
  • O componente de Língua portuguesa fechou a etapa com o estudo da estrutura, produção de texto para melhorar as habilidades escritas, bem como a elaboração de materiais que serão utilizados nas escolas.

Ao final, a equipe da Secoya e os professores Yanomami avaliaram de forma muito positiva a realização desta etapa do Curso. Nenhum problema ocorreu ao longo da realização e todos ficaram bem satisfeitos com o resultado.

 

 

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