Nas Trilhas da Autonomia: educação escolar indígena em discussão PDF Imprimir E-mail
Qua, 20 de Março de 2013 13:44
Sessão Plenária
Os filhos do waraná da região do Marau, Território de Nusoken-Sateré-Mawé, conjuntamente com a Associação Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami-Secoya e o Instituto de Cooperação Econômica-ICEI-Brasil, organizaram e realizaram no período de 05 a 09 de março de 2013, na comunidade Nova Esperança, o I Seminário de Intercâmbio de Experiência de Educação Escolar Indígena do Amazonas, com o tema central: educação diferenciada e de qualidade.
Apresentação do Porantim-Artefato sagrado dos Sateré-Mawé pelo tuxaua da Aldeia Nova Esperança
O evento contou ainda com a participação de lideranças tradicionais, professores indígenas Sateré-Mawé dos rios Marau e Uaicurapá (Terra Indígena Marau e Andirá\Maués), Yanomami da região do Marauiá (Santa Isabel do Rio Negro), Tuyuka do rio Tiquié (Alto Rio Negro\São Gabriel da Cachoeira), Tikuna da região do Alto Solimões (Tabatinga), Marubo e Matís do Vale do Javari (Atalaia do Norte) e acadêmicos da Licenciatura Específica para a Formação de Professores Indígenas (UFAMi) e do Curso Pedagogia Intercultural (UEAii), comunitários do povo Sateré-Mawé e profissionais da educação - indigenistas do IFAMiii-Maués, Secoyaiv, Rios Profundosv, UEA, UFAM e SEDUCvi-GEEIvii/CEEIviii.
Atividades Culturais
A troca de experiência relacionada diretamente à educação desenvolvida em diversas comunidades indígenas foi o caminho trilhado para aprofundar e saber “o que está realmente acontecendo”, assim se expressou um professor Sateré-Mawé para se referir ao estado da educação escolar indígena no Estado do Amazonas. Saber e entender as vias burocráticas e políticas da educação defendida e difundida pelo Estado foi objeto de discussão e debate entre os participantes indígenas e não indígenas.
Apresentação da Experiência Yanomami
No decorrer dos debates, ficou claro, para os participantes indígenas, que a falta de uma política de educação escolar efetiva, que respeite e valorize os conhecimentos indígenas, ainda não entrou em pauta na agenda política do governo do Estado. O principal fator para esse tipo de comportamento é que muitos técnicos do governo “defende o que não se pode defender”, ou seja, uma educação formal indígena seguindo o modelo de uma educação formal não indígena. Além disso, o governo, em suas diversas esferas, não dispõe de métodos adequados e apropriados para consultar os povos indígenas sobre os rumos e os caminhos da educação escolar que desejam para si e para os seus povos.
Equipe da Secoya no Seminário
Seguindo esta trilha, identificando os problemas e os obstáculos da educação escolar indígena, os participantes em um verdadeiro “puxirum pedagógico e cultural” foram identificando as principais barreiras impostas pelo Estado, dentre elas a transformação dos representantes indígenas que, em nome do movimento e da causa indígena foram colocados e referendados para serem interlocutores frente ao Estado e se transformaram em interlocutores do Estado.
A não apreciação e o reconhecimento efetivo conforme prescreve a CRFB1988, a Convenção – 169 da OIT e a Declaração Universal dos Povos Indígenas, além da legislação que regulamenta a educação escolar indígena no Brasil, como a mais recente Resolução 05 de 22\06\2012 do CNEix, nas quais se pautam os vários projetos políticos pedagógicos elaborados pelos indígenas e encaminhados para as secretarias de educação que as ignoram e/ou reformulam, como bem ressaltaram lideranças e outros participantes em relação a essa atitude: “o que a gente repassa para o governo não é acatado”; “a escola deve estar à serviço da comunidade indígena” e não ao serviço do sistema formal de ensino imposto pelo estado; “parece que quem fala em educação diferenciada é louco”.
Grupo de Trabalho
De forma coletiva e interativa, os participantes realizaram reflexões em torno das experiências pedagógicas e metodológicas desenvolvidas no processo de ensino/aprendizagem nas comunidades. O uso da língua materna, conforme foi destacado, orienta, a muito custo por falta de apoio a produção de material didático, a ação política de professores indígenas nas comunidades. Todavia, foi objeto de ênfase e de repúdio, a forma impositiva das SEMED’s em não respeitar a organização do calendário escolar próprio e os processos avaliativos dos povos indígenas.
Os professores Yanomami Otávio e Vicente com o pajé da Aldeia Nova Esperança
Ainda de forma coletiva, os participantes avaliaram a construção, as transformações e os impactos que os projetos étnico-políticos ocasionaram nas comunidades. Concluíram que, apesar dos obstáculos e das barreiras impostas pelo poder público, não evitaram os avanços e o desenvolvimento de muitos projetos traçados pelas comunidades. Ressaltaram que muitos indígenas residentes na comunidade têm dificuldades em compreender a política de educação indígena desenvolvida nos territórios indígenas.
Par concluir as atividades, os participantes em plenária apresentaram, discutiram e encaminharam suas reivindicações para os poderes públicos com objetivo de ter suas vozes e seus anseios observados e sentidos pelos gestores públicos que muitas vezes desconhecem ou ignoram as propostas e os encaminhamentos dos povos indígenas.
_________________________________
i Universidade Federal do Amazonas
ii Universidade do Estado do Amazonas
iii Instituto Federal do Amazonas-Maués
iv Associação Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami-Secoya
v Associação Rio Profundos;
vi Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino
vii Gerência de Educação Escolar Indígena
viii Conselho de Educação Escolar Indígena
ix Conselho Nacional de Educação
Segue em anexo o documento final na integra resultante desse intercâmbio de experiências:
Anexos
ArquivoDescriçãoTamanho do arquivo
Fazer download deste arquivo (Documento.pdf)Documento.pdfPropostas do I Seminário79 Kb
 

Nossos parceiros