Secoya realiza a X etapa de formação dos professores Yanomami PDF Imprimir E-mail
Seg, 28 de Maio de 2012 14:02

A X etapa de formação de professores Yanomami foi iniciada no dia 21 de maio, no sitio Poraquê, município de Rio Preto da Eva e se estenderá até o dia 29 de junho próximo.

Participam desse curso 21 professores e duas lideranças Yanomami oriundos das aldeias do Bicho-Açu, Ixima, Pukima-beira, Raita, Pukima Cachoeira, Kona, Ajuricaba e Komixipiwei, (rios Marauiá e Demini) localizados nos municípios de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, no estado do Amazonas.


Este curso representa mais uma etapa de um total de doze previstas para alcançar a certificação da primeira turma de professores Yanomami, que deverá acontecer em 2014. As disciplinas  ministradas nesse curso são os seguintes: matemática, política de educação escolar diferenciada; arte e expressão cultural; literatura; cidadania e direitos indígenas; informática básica; pedagogia – orientação para estágio e metodologia da pesquisa.


O trabalho de educação desenvolvido pela Secoya está alicerçado em escolhas feitas pelos Yanomami, as quais a instituição tenta colocar em prática respaldada pela legislação educacional vigente. Trata-se de uma gestão participativa onde todas as decisões sobre calendário, carga horária,  conteúdos, etc. são tomadas pelo coletivo. Para os xapono onde a Secoya atua, a escola é um espaço de aprendizado de novos conhecimentos que são importantes na relação com a sociedade nacional, mas também serve para o trabalho de valorização da cultura através da participação dos mais velhos em atividades escolares e do convívio próximo do xapono.

Os objetivos constando nesta proposta educacional representam a seqüência lógica do trabalho desenvolvido neste campo pela Secoya nos dez últimos anos e a última fase do processo de consolidação de uma proposta de educação escolar diferenciada sui generis para que possa ser reconhecida pelos poderes públicos e desenvolvida com maior apoio das instituições governamentais.
O reconhecimento desse processo requer, todavia, um trabalho intensivo e contínuo em termo de sensibilização e de convencimento dos gestores da educação escolar indígena no estado do Amazonas e mesmo do próprio MEC.
A Secoya está atuando na perspectiva de consolidar a proposta da escola Yanomami e da experiência desse trabalho através da sistematização de todo o processo bem como de suas características. É importante saber que são poucas as experiências do gênero no Amazonas e a perspectiva de apresentar e divulgar este trabalho representa importante estratégia

A ação político-educativa: O caminho para o Assumir Yanomami 

Esse processo educativo assume um papel importante no caminho da construção da autonomia do povo Yanomami num contexto cada vez menos respeitador das diferenças. O empoderamento da população Yanomami representa a possibilidade de reagir diante dos processos discriminatórios e de exclusão social ao qual estão submetidos, além de maior domínio dos Yanomami na resolução de seus problemas, aprendendo a situar-se diante dos outros atores políticos e passando assumir de modo mais autônomo ações de sua responsabilidade. Representa ainda a possibilidade efetiva de colocar em prática os preceitos constitucionais relacionados com os direitos indígenas e com as normas internacionais (ONU, OIT) que garantem o processo de consulta e participação dos povos indígenas nas instâncias que tratam de assuntos de seus interesses. 

A importância da proposta pode ser medida ainda quando são considerados os cenários cada vez mais dramáticos que envolvem os povos indígenas, principalmente com as recentes políticas assistenciais ou compensatórias, que têm gerado novas expectativas dos povos indígenas, e dos Yanomami em particular, no sentido de “esperar” de outros atores as respostas e soluções aos seus problemas. Isto é perceptível na postura muitas vezes passiva que transforma os sujeitos dessa história em espectadores dos acontecimentos que ocorrem em suas terras.

Trata-se, portanto, de uma ação político-educativa rumo ao empoderamento do povo Yanomami, que coloca ao centro do debate questões cruciais para o futuro dos Yanomami tais como: a promoção de uma educação para a cidadania, o fortalecimento da auto-estima e afirmação da identidade étnica do povo Yanomami diante dos desafios postos na relação com a sociedade nacional; a sustentabilidade em seu próprio território. A escola diferenciada é, portanto, um meio de suscitar estratégias voltadas para a promoção de mudanças paulatinas nessa relação, a partir da vivência e da experiência de contato dos Yanomami.

 

 

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